... sê paciente, aguarde o momento adequado. As coisas giram. Chega o tempo, vem o conselho. Nem sempre é dia alto e nem sempre o masculino é mortal. Não se deve usar a violência. Chega a hora em que o sol se põe, a hora em que o calor não é tão forte e destruidor. Chega o entardecer e a noite, e o sol volta para casa, pois Hélio “viaja para as entranhas da sagrada noite escura, para junto de sua mãe, da esposa e dos muitos filhos, e então o princípio masculino se aproxima do feminino”. (p. 81).
Mas esse fracasso paradoxalmente feminino de Psiquê provoca a intervenção de Eros que, de jovem aventureiro e imaturo, torna-se um homem: o fugitivo ferido torna-se o salvador num outro nível. Nas leis que parecem formar a base deste mito, Psiquê, com seu fracasso, faz exatamente o que tinha de fazer, aquilo que estimula a primeira ação inteiramente máscula de Eros. Quando, na ocasião anterior, ela acendeu a luz do candeeiro correndo o risco de perder Eros, impulsionada por algo que lhe pareceu ser ódio, agora ela está disposta a “permanecer nas trevas” a fim de conquistá-lo, impulsionada por um motivo que lhe parece ser o amor; com essa situação em que, como uma nova Core-Perséfone, dorme novamente no caixão de cristal, Psiquê fornece ao amante a oportunidade de aparecer como seu salvador, como o seu herói.
Na medida em que Psiquê sacrifica o lado masculino - que, necessário como era - conduziria à separação, ela veio a ficar numa situação em que, justamente por seu desampara e pela sua necessidade de ser salva, libertou o encarcerado Eros. (p. 98 - 99).