Estava lendo um livro, Re - Vendo a Psicologia, quando recebi a notícia. Ela veio através de uma mensagem de celular: O James Hillman faleceu hoje. Só consegui responder: Cara... Grande perda. Sentimentos à todos os junguianos sem amarras... NÓS.
Depois disso comecei a refletir sobre o que aquela informação me trouxe.
Conheci os escritos de Hillman através da relação com os grupos de estudo. A psicologia analítica, com o passar do tempo, foi se desmembrando em outras formas de conhecer as realidades da Alma. Desses desmembramentos, apenas acadêmicos no meu modo de ver, surgiram três grandes escolas. Hillman foi o pai da escola Arquetípica, aprofundando discussões e reflexões que levaram à elogios e críticas daqueles que apreciam os conhecimentos oferecidos por Jung. E nesta perspectiva, fui um dos que não entendiam sua proposta e não via a vantagem de suas idéias.
Todavia, como disse, na relação com os grupos, seus escritos começaram a fazer eco nas palavras de pessoas próximas que se interessavam pela forma de pensar proposta por ele. Assim, esses amigos queridos, me fizeram, mais uma vez, buscar conhecer outros mundos, outros modos. Enfim, minha curiosidade em saber do que meus caros amigos falavam me levou a buscar esse autor, conhecer e tentar compreender seu pensamento.
Por acaso do destino, prefiro pensar assim, cheguei ao seu livro, a meu ver, mais estranho. E vejam, esta é a palavra: estranho. Como uma criança que tateia a fim de começar a andar, fui levado a um local no qual não tinha a menor idéia do que aconteceria. Psicologia Arquetípica, a meu ver, não é algo fácil de se ler. Mesmo assim, trouxe a discussão proposta para o grupo na crença de que nossas discussões pudessem esclarecer pontos pendentes e alinhavar nosso conhecimento. Pensamento simplório! O que ocorreu foi que ficamos ainda mais intrigados com o que este sujeito, muitas vezes mal visto dentro dos círculos junguianos, tinha a oferecer. Confesso que passei por momentos de desconforto com o livro. Um misto de fascinação e repulsa.Caminhando. Outro fato interessante sobre minha relação com esse livro é que encontrei ele apenas no sebo, algo em torno de 10 reais, para logo descobrir que é um livro difícil de se encontrar e que, mesmo usado, sai em torno de 50 reais. Hoje, encontra-se o mesmo por 80 reais. Um livro pequeno, vermelho, com cento e poucas páginas.
Continuei caminhando!
Encontrei outros escritos. E esses me pareceram mais fáceis de entender. Suicídio e Alma e Paranóia me deram uma reflexão melhor sobre este autor, mas tive um estalo quando li Entre Vistas. Este último me apresentou o autor e seu mundo e, através deste, pude entender melhor o que Hillman dizia. Re - Vendo a Psicologia foi minha última aquisição, até agora.
Meu passei por sua teoria me leva a outras questões que dentro da psicologia analítica poucos se atrevem a fazer. Dá a impressão que ele tenta levar até as últimas conseqüências alguns processos do dia a dia. Atualmente não posso dizer que tenho uma opinião sobre ele. Diferente de algum tempo atrás no qual eu apenas via complicações em seu pensar, hoje consigo fantasiar sobre o que ele fala. E isso, com certeza, vem enriquecendo meu trabalho.
Finalizando, tenho que agradecer aos meus ótimos amigos do grupo de estudo que me apresentaram e me permitiram encontrar novas possibilidades através desse brilhante autor. Sinto que, de alguma forma, ele me tocou, assim como Jung me tocou mesmo antes de entrar na faculdade. Jung e Hillman, a meu ver, foram os que mais contribuíram para uma nova forma de pensar o humano, pensar a Alma.
Refletindo novamente sobre a sua morte, percebo que morreu um grande autor, com certeza. Mas acima de tudo, dá-me a impressão de que morreu uma criança, uma criança curiosa e que não aceitava enquadres. Acabei gostando de seus escritos por oferecerem caminhos sem cercas, horizontes sem fim. Jung já havia me dado isso, mas com ele foi diferente, ele apresentou de forma mais atualizada, mais vibrante e rebelde. De uma forma ou de outra, compensa ver e ler um pouco mais sobre esse grande autor que deu continuidade ao pensamento de Jung.
James Hillman ( Abril de 1926 - Outubro de 2011).
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