segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

ALGUMAS PALAVRAS...


Palavras, assim como anjos, são forças que têm poder invisível sobre nós. Elas são presenças pessoais que tem mitologias: gênero, genealogias (etimologias com relação à origem e criação), história e moda; e sua própria defesa, blasfêmia, criatividade e efeitos aniquilastes. Pois as palavras são pessoas. HILLMAN. 

A gíria significa uma linguagem em evolução, uma coisa bem viva. Suas imagens não são metáforas desgastadas ou carcomidas, pálidos reflexos de épocas imemoriais ou convenções lisas, corretas e concisas, mas figuras cheias de vida contendo a vitalidade originária do solo que habitam e o sabor incomparável das condições locais, próprias de uma terra estranha e sem preconceitos de um novo país. JUNG.

Na primeira fala, HILLMAN apresenta uma discussão sobre a energia própria das palavras, o quanto estas atuam em relação com os sistemas. Na segunda, JUNG aponta o processo de transformação da linguagem e, pode-se inferir, das palavras, através do aparecimento de gírias e condições que modificam o modo de interação com esses conteúdos. 
Pois bem, para quê isso afinal de contas? Para chamar à atenção um tema não muito discutido no campo junguiano, a palavra e sua etimologia. 
Talvez, o caminho que mais fale sobre esse tema ainda seja o Lacaniano. E nem sei muito bem como é isso. Apenas sei que quando me pegam com um dicionário etimológico logo me perguntam sobre Lacan. Isso me leva a pensar também sobre como são as máscaras psicológicas : como é um Lacaniano, um Junguiano, um Freudiano, um Skineriano e por aí vai.  Mas voltemos ao tema. 
Pensar sobre como a palavra se constituiu e quais os caminhos que tomou é como pensar num processo de transformação constante. Pode-se observar que algumas palavras desaparecem do vocabulário, outras aparecem, outras se modificam (aumentam e/ou diminuem), como qualquer conteúdo pertencente a essa realidade psicológica. Por que não entendê-las dentro desta perspectivas?
Alguns colegas preferem tomar a palavra de seus clientes como algo pertencente ao sujeito e outros como algo social. O que isso diz ao profissional? Bem, pelo que entendo alguns perguntam ao sujeito o que aquilo significa para ele e outros simplesmente acreditam que o dicionário é a resposta. Mas seria tão simples assim?
Já se perguntou como a construção de uma palavra pode dizer muito sobre os conteúdos que a envolvem? Um simples “Vossa mercê” se transforma em “vc” e atualmente encontramos até simplesmente “c”. Essa informação, passada pelos fios das redes e pela linguagem comum (e infelizmente em alguns escritos) de nós Brasileiros pode informar sobre alguns de nossos conteúdos. Da mesma forma, qualquer outra palavra que tenha sido acrescida no decorrer dessa história nos dá a mesma idéia. Junte isso com a aplicação diária e individual dada às palavras e tem-se um vasto campo. 
Pode-se falar de uma necessidade em se compreender os dois processos para que se tenha algo mais real. Ou seja, saber da etimologia e dessa representação dada pela pessoa que utiliza a palavra. Neste sentido, seria como ter um conhecimento que perpasse pelo atemporal, coletivo e pessoal. Uma forma de conhecer alguns lados do objeto. Talvez isso possa fazer com que o observador se atente do que realmente está querendo informar ou identificar. 
Encontra-se ainda alguns outros problemas quando envolvemos as palavras. Algumas pessoas não sabem realmente o que certas palavras querem transmitir. Isso pode ser tanto uma falta de conhecimento do vocábulo, quanto uma utilização da palavra com uma novo significado (uma gíria, por exemplo). Pode ainda ocorrer de alguns vocábulos de outras línguas serem inseridos na linguagem. E os neologismos não são raros. Na prática clínica temos que lidar com todas essas possibilidades, todos esses caminhos e desvios, concretos e imaginativos. 
Novamente me deparo com a arte de perguntar, saber sobre o que aparece na minha frente. Não seria um perguntar lógico, mas um perguntar simbólico que dá abertura para essa palavra expressar sua realidade atemporal. Daí HILLMAN falar de seu poder sobre nós e JUNG apontar suas transformações, não se trata de algo estático mas extremamente rico em possibilidades.  Colocando-as em explicações fechadas impede-se seu poder transformador, levando-as apenas para campos simbólicos abandona-se a relação com uma realidade palpável. Neste sentido, igual a qualquer conteúdo que se apresente, as palavras também exigem uma atitude transitória, uma prática que estabeleça uma conexão entre individual e coletivo, entre conceitos fechados e abertos. 
Talvez não tenhamos o hábito de escolher nossas palavras, mas isso pode gerar um diferencial em nossa relação com o meio. Talvez isso entre no “como dizer”. 

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