sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A CURIOSIDADE MATOU... A TRANSFORMAÇÃO.


No trabalho psicológico o profissional se depara com inúmeras situações que não compartilham um padrão. Dizer que cada caso é um caso não é apenas uma forma de evitar diagnósticos precipitados ou ansiedades, é uma realidade que se apresenta de forma concreta no trabalho psi. 

Todavia, durante a formação destes profissionais ocorre uma constante exaltação de práticas e formas que levam o futuro profissional a se imaginar quase um detetive dentro de um mundo cheio de disfarces e artimanhas. O futuro profissional tende a aprender a trabalhar com questões fechadas, diagnósticos validados por testes e ferramentas inquisitórias.  O profissional, dentro desta perspectiva, se torna um Sherlock que deve juntar pistas para elucidar o caso. Neste aspecto, a principal característica esperada deste profissional é sua curiosidade e observação atenta. O que se torna um paradoxo quando se pensa uma prática que considere o sujeito em sua totalidade dinâmica. 
A princípio, a curiosidade pode aparecer como um guia em meio a tantas informações e necessidade de se fazer uma verificação na problemática do sujeito. Esse processo é necessário ao início do trabalho, ele dará algum direcionamento quando bem elaborado. Porém, deve-se ter a consciência de que esta prática é uma passagem, uma parte do processo e não seu todo.  Isso pelo fato de que, quando está-se curioso de algo, perde-se a possibilidade de visualização de outras partes. Pode-se dizer que a curiosidade leva o profissional a dar continuidade a uma busca que não é entendida como processo e sim como validação pura e simples de algo já pensado. 
Essa curiosidade nasce a partir de dúvidas e incertezas que, provavelmente, pertencem ao profissional. Na relação que se estabelece ela instiga a necessidade de confirmação de algo, o que faz com que a relação se paute apenas num determinado ponto a ser comprovado. Como Sherlock, busca-se as pistas que levam à elucidação do caso. E fim!
Da mesma forma, uma observação atenta, quando colocada sobre o altar supremo, não abre portas, mas apenas encontra a razão acadêmica. Desta maneira, o profissional também fixasse apenas num ponto da questão. E ignora as placas e sinais que também estão pelo caminho. 
A busca de soluções através destes caminhos, quando não claros, leva o profissional a apenas saber sobre o que não sabe. Todavia, dentro deste saber encontra-se ele mesmo e não a Alma do outro. Quanto mais o profissional busca conhecer seu cliente, quanto mais curioso, quanto mais atento em suas observações racionais, mais ele se distancia do conhecimento do verdadeiro sujeito que se encontra a sua frente. “Quanto mais  te esforças por atingir o alvo, mais fora dele tu atiras.”
Isso ainda pode levar o profissional à outras armadilhas. Pense no caso em que as pistas levem a lugares nos quais as afirmativas não se confirmem. O profissional, neste caso, encontra-se destruído em sua autoconfiança e fé. Isso pode levar ao aparecimento de dúvidas, ansiedades e incertezas na relação.
De acordo com Jung compreender a ação e relação entre as funções e as associações inconscientes podem colaborar para se obter uma interação mais completa com os conteúdos. Neste sentido além da parte racional, sentimental, intuitiva e sensitiva encontra-se também a parte que gera uma gama enorme de possibilidades. Ou seja, a Alma em interação dinâmica no processo. 
Não há como pensar em questões fechadas, portanto, não se pode fixar os olhares através da curiosidade e de uma observação fria. 
Valorizando demais estes pontos, não se chega a interagir com o sujeito em sua totalidade. Aproxima-se apenas das questões superficiais, ações conscientes, lembranças de fatos nos quais há poucas emoções.
A constatação de eventos ocorridos na vida do sujeito, muitas vezes, não informam muito sobre o sujeito, alguns nem chegam a tocar a alma. São apenas constatações conscientes de eventos. E quando se para apenas nos fatos, satisfazendo o desejo de solucionar um caso, não se dá atenção àquela parcela do sujeito que mais importa ao seu trabalho de encontro com o Si-mesmo. 
É com essa visão que o profissional psi deve trabalhar. Reconhecer a existência dessas questões e comportamentos, interagir com sua curiosidade e observação excessiva. Perceber o símbolo se mostrando e não agir na tentativa de entender o que ocorre de forma rápida e precisa. A partir do reconhecimento em si desses processos, talvez o profissional consiga passar ao cliente segurança no caminho. 


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