Durante a semana passada, surgiram muitos comentários sobre a relação com o outro. Relações em todos os sentidos, desde a dificuldade em relacionar-se com o parceiro até o fato de que “tal” pessoa não se percebe, ou seja, não se relaciona com seu outro... etc... etc...
Talvez seja interessante dar uma olhada em Sobre Eros e Psique, de López-Pedraza, livro em que o autor discute o desenvolvimento da Psique através da relação com Eros. Neste livro percebe-se o quanto os trabalhos efetuados por Psique conduzem a um processo de desenvolvimento no qual eu e o outro se reconhecem como diferentes partes de um todo.
Mas isso é teoria, fácil de entender! A questão começa a tomar coloridos diferentes quando se traz esses conteúdos para o campo vivencial. Neste campo, cada um tem que se entender com o outro dentro de si, aqueles conteúdos que não possuem uma relação sadia com nosso eu, e ainda relacionar-se com os outros do outro.
O problema aparece (mas não é visto) quando se começa a ver no outro o motivo de nossas agruras ou de nossas dádivas... Começo a identificar no outro sua agressividade, seu lado primitivo, seu jeito vítima de ser, sua fragilidade, sua infantilidade, sua força sobre-humana, seu talento natural... E a lista vai aumentando.
Quando olho para o outro e vejo toda essa variação de complexos, não poderia, ao mesmo tempo, compreender o produto desse olhar como um reflexo a ser analisado pela minha psique? Talvez a parte que vê somente tenha a visão de seu próprio reflexo... Talvez nem veja...
Nos encontros e desencontros de semana passada, as pessoas indagadas sobre o que isso significava para elas, estas questões sobre suas relações, não ofereceram conteúdos que levassem a uma resposta pronta ou uma receita perfeita. Pelo contrário, as que se dispuseram a trocar, chegaram a conclusão que isso é trabalho de uma vida. E, infelizmente ou felizmente, a maioria não gostou de ser questionada sobre a postura que adotara frente à relação. Ou seja, poucas estavam dispostas a trocar, poucos queriam ver... Mas será que esse fato não diz muito também sobre como eu me relaciono, uma vez que penso que o outro precisa ver? E o que vejo como reflexo que deve ser analisado?
Jung aponta vários caminhos possíveis de relações com o meio interno e externo no decorrer de sua teoria. Felizmente, esse mesmo autor coloca que cada um possui o seu caminho, seu mito pessoal, e cabe a cada um descobri-lo. Seria esse o trabalho mais complicado, desde a época dos filósofos, ou antes...
Talvez perceber-se seja se olhar com os olhos de outro. Talvez isso leve o indivíduo a reconhecer suas questões e soluções, fazer seu próprio caminho. Seria tão doloroso ter conhecimento de que me movo aliando vários conteúdos que se harmonizam e se digladiam em meu ser?
Buscar a própria individualidade significa recuperar partes minhas que dispenso aos outros, é ter coragem para assumir o que é meu por natureza. Essa coragem leva à responsabilidade individual, consigo e com outros. Viver nesta condição de processo contínuo é um viver diferenciado.
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