terça-feira, 28 de junho de 2011

ONDE OLHAR?

“O grande problema da sociedade de hoje é a comunicação!”

“Vivemos numa era na qual as pessoas podem se comunicar de várias formas em vários lugares!”

Tem algo errado?


Conversando com alguns profissionais percebe-se rapidamente que estes discursos pertencem a mesma pessoa. Seja ela um psi enfurnado em sua clínica ou no serviço público, seja ela um engenheiro ou um hacker... Todos reclamam dos problemas de comunicação e isso leva a outra questão... Será que não o problema está na forma e modo de comunicação ou na base desta comunicação, pode-se dizer, a relação com o outro.

Observe, não se comunicar é não perceber o outro... Um problema de comunicação levaria a um problema na relação estabelecida com este outro que se apresenta. Pense neste outro como qualquer coisa que não seja o Eu, desde conteúdos internos até conteúdos externos. Como o ser humano se relaciona nos com os conteúdosdias de hoje?

Talvez nunca o ser humano esteve tão perto e tão longe de seus pares. A tecnologia utilizada para se “ligar” ao mundo é a mesma que “desliga” o sujeito do mundo, inclusive, às vezes, de seu mundo interno. Neste sentido, projetar (o que é algo normal e necessário) pode levar o indivíduo para outros campos que não sejam tão reais quanto a realidade compartilhada (uma permanência nas projeções).

O indivíduo do aqui e agora pode viver muito mais num mundo fantasioso, com prazeres próprios, ou em busca desses prazeres próprios, sem se dar a oportunidade para interagir com o diferente e, consequentemente, envolver-se com um mundo aberto em suas possibilidades.

Mas a humanidade quer isso? Num mundo no qual a multiplicidade apresenta-se todos os dias, o que se busca além de rótulos que possam dar conta de um conhecimento unilateral?

A tomada de consciência atravessa essas fronteiras de apenas re-conhecer a multiplicidade, ou re-conhecer a complexidade como diriam alguns. Re-conhecer apenas não basta, deve haver um processo de inter-ação, um processo de relação. Esse espaço de relação é um lócus de mistura, de deixar-se tocar na medida em que toca.

Re-conhecer-se é também conhecer-se através da relação com o outro e a não promoção desse encontro torna a vivência uma condição rígida, unilateral e manca. Faltosa, talvez, no reconhecimento das fraquezas, dos defeitos da alma individual. Haja vista que o Eu pode identificar-se como o Senhor de Si e de Sua Realidade Única.

Talvez sejam essas questões que encontram-se misturadas ao discurso de tantos que procuram os atendimentos psi... Talvez esteja ocorrendo uma falta de relação que se disfarça pela falta de comunicação... Talvez o homem da atualidade esteja presenciando a estruturação de uma nova forma de relacionar-se consigo e com os outros... Talvez tudo isso não faça o menor sentido... Todavia, parece ser sobre isso as reclamações de tantos indivíduos que gritam para que a sociedade olhe para eles ou daqueles que ainda não conseguiram se olhar no espelho.

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