quinta-feira, 28 de abril de 2011

Simplesmente escolhidos...

A discussão sobre o ódio parece ser o tema da vez. O ódio se mostrando atravéz de preconceitos, assassinatos, espancamentos, variadas formas com a mesma fonte, o mesmo princípio. Talvez, uma mesma temática. Algo pertencente a uma concretude anterior ao humano.
Discriminar nada mais é do que diferenciar, distinguir, especificar, perceber diferenças. Preconceito é um pensamento, uma ideia, uma opinião formada antecipadamente, uma pŕe forma de algo. Todavia, estas simples palavras, nem boas nem ruins em suas construções, ganham colorido e proporcões diferentes a cada contexto no qual são utilizadas. E, por mais que exista a tentativa de fugir destas associações, ambas já possuem, atualmente, sua carga de negatividade.
Por esse caminho encontramos algo similar quando pensamos sobre o ódio. Essa paixão que impele o homem a causar ou desejar mal a alguém. Vê-se algumas de suas várias aparições em ações diárias do indivíduo dito normal. Percebe-se que ele se encontra mais próximo do que imaginamos, nas menores atititudes. López-Pedraza diz que parece que o ódio a uma pessoa pode ser visto como uma projeção maciça sobre tal pessoa de emoções negativas não aceitas (López-Pedraza, Emoções, 2010, p. 63).
E então adentramos à questão que ocasionou este texto. Pode-se considerar a ideia de povo escolhido como um mitologema? E se essa resposta for afirmativa... Há semelhança entre as estruturas que validam as teorias dos povos europeus sobre os africanos, dos arianos sobre os não-arianos, dos escolhidos e que serão salvos através desta ou daquela religião? Estaria este mitologema vinculado à uma perspectiva na qual meu caminho é o verdadeiro e único caminho à ser seguido? Seria, basicamente, escolher uma determinada teoria, religião, grupo, e acreditar que as demais estão fadadas ao erro e fracasso?
Nesta questão, alia-se o entendimento sobre os mitos de origem. Através desses mitos pode-se também se identificar com uma origem que considere a si mesma como a mais nobre ou superior às demais. Neste caso, pode-se perceber uma possível base para tanto ódio expandido, afinal, uma origem nobre o faz ser realmente um escolhido. Um merecedor das graças divinas.
Somos os “escolhidos”, ouso dizer, em qualquer perspectiva, quando nos "enquadramos" - palavra tão repudiada pelo profissional psi - em um determinado padrão. Sou supremo racialmente quando sou ariano puro, sou mais competente quando sou sulista, terei um bom pós morten quando exercito esta ou aquela ação. E isto basta para me tornar melhor, ser escolhido, ser levado para junto de um algo superior. E os demais seres da aldeia Terra? Serão estes odiados e mortos pelos "pais"celestiais superiores, haja vista que estes não são escolhidos? Aos escolhidos o ouro, aos não escolhidos a morte.
A fim de visualizar essas dádivas e punições sobre os povos escolhidos e não escolhidos, não fixe a imagem do ouro ou da morte. Pelo contrário, amplifique essa imagem e através dos simbolismos do ouro e da morte e teremos uma visão melhor das linguagens utilizadas pelos “ricos” e “mortos” que apararecem em nosso dia a dia.
Entretanto, o ódio não está simplesmente ao lado. Está em minhas escolhas que pregam o melhor somente aos “escolhidos” pelos meus ideais superiores que respondem à todas as questões.
Talvez as questões a serem feitas sejam: Onde o Eu brinca de ser deus? Onde o Eu decide o bem e mal? Onde o Eu vê seus “escolhidos”?
O fato de questionar dessa forma também coloca o Eu em posição de se achar de certo modo um ser escolhido, porém corre-se menos riscos (tentemos acreditar nisso). Depara-se, nesta feita, com a solidão. Solidão provocada pela constante dúvida de si. A não ser que você comece a disseminar o seu “ouro”, seu “achado” como um profeta, um aspirante a deus, que “escolhe” pessoas.
Os deuses não estão mortos, eles caminham em bando pela aldeia Terra degladiando-se todos os dias. Às vezes matam, outras morrem. Mas sempre deixa seus escolhidos. E estes fazem o que sabem fazer melhor, julgam o destino dos não escolhidos.

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