segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Algumas discussões sobre O ABUSO DO PODER NA PSICOTERAPIA - e na medicina, serviço social, sacerdócio e magistério.

(Parte da Vivência e Reflexão: Cuidando de quem Cuida ministrada no evento O CUIDADOR E SEU PACIENTE: ALGUNS PONTOS DE VISTA E CONSIDERAÇÕES, realizada na Universidade Estadual de Maringá)
Onipotência na área da saúde: o que nos dá o direito de impor uma ajuda ao outro? Quando nos relacionamos com o outro dentro de nossa perspectiva profissional, qual o mal que podemos causar involuntariamente aos nossos paciente/clientes quando nos propomos a ajudá-los? Essa é apenas uma das várias questões que o autor nos apresenta e que nos leva a encarar nossos lados sombrios.
Segundo o autor, a função que exercemos “não é salvar as pessoas ou revelar-lhes o sentido de sua vida”, o que podemos fazer é “mostrar que tanto o vazio como o sentido existem e ajudar as pessoas a suportarem serem o que são” (pg. 11).

Vemos no livro que não prestando atenção em nossas ações podemos cair num falso profissionalismo, algo que contrariaria ou anularia a verdade de nossos clientes. Seguindo esse caminho, de queda, nossa meta seria a de “criar pessoas saudáveis, socialmente ajustadas e felizes em seus relacionamentos pessoais [...] Se a pessoa não se torna feliz e normal nesses termos, presume-se que algo de errado deve ter ocorrido na infância [...]” (pg 19-21).
Entretanto, podemos nos perguntar: O que é  normal, saudável, ajustado, feliz? Quem dita a forma de ser?
Segundo o autor, “preferimos não reconhecer o direito à doença, à neurose, à relações familiares não saudáveis, à degeneração social e à excentricidade [...]” (pg 21). Ele continua, “manipular nossos semelhantes contra sua vontade, mesmo quando isso nos parece a única via adequada, pode ser altamente problemático. Nunca se pode saber ao certo qual o sentido real de uma vida humana individual [...] Nossos valores atuais não são únicos nem definitivos [...] A consciência do caráter questionável de nosso sistema de valores deveria nos tornar mais cautelosos quando tentamos impingi-lo aos outros” (pg 22).
Um ponto aqui nos chama a atenção. Dentro da perspectiva junguiana, pensamos que às vezes a patologia gerada através do conflito (inconsciente/consciente) é a melhor forma do indivíduo encontrar-se consigo. É a forma com que a psique encontra para colocar o indivíduo no processo de individuação, no seu processo pessoal. “Essa "excrescência doentia" constitui aquela atividade objetiva da alma que, independentemente da vontade consciente, gostaria de comunicar-se com a consciência por meio da voz interior a fim de conduzir o homem de volta à sua totalidade” (JUNG. O. C. vol. XVII)
O livro como um todo nos chama a atenção para que percebamos nossas ações, para que vasculhemos nossas questões mais obscuras. Segundo ele, “quanto maior sua contaminação por motivações obscuras, mais o profissional parece apegar-se a uma suposta ’objetividade’[...]” (pg 23). O que seria um grave erro e um passo à queda.
Tentamos passar aqui apenas uma visão simplifica da idéia que o autor apresenta no decorrer de várias páginas. A discussão sobre as práticas profissionais, sempre necessárias, nos leva a questões pessoais e culturais que atingem diretamente a forma de vermos e interagirmos com os indivíduos, dentro e fora do Temenos.
É de leitura indispensável para aqueles que procuram sondar os campos obscuros de si e de sua profissão. Maiores informações sobre o livro podem ser encontradas em comunicações anteriores deste blog.

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